sábado, 1 de setembro de 2012

Capítulo 8 - Medo

-- (Inês) --

Eu estava nervosa, não por mim, talvez um pouco, mas mais pela Ana. Eu sabia o quanto ela queria entrar para o grupo de teatro, e sabia que o ia conseguir, mas ela ia muito insegura de si, e tinha medo que isso pudesse ser maior que o seu talento e deita-se tudo a perder. Eu podia conhecer a Ana há razoavelmente pouco tempo, mas há tempo suficiente para a considerar uma grande amiga e estava aqui a torcer por ela. Mas agora tinha de me concentrar na minha prova. Encaminhava-me para os balneários, quando me deparo com um bilhete de aviso, afixado na porta, a encaminhar-nos para o campo principal. Assim o fiz. Há medida que me ia aproximando do relvado, ia vendo os muitos alunos que se queriam inscrever em Futebol. Ali se abatia um enorme silêncio constrangedor, todos se voltaram para mim ao ver-me chegar.

- Boa tarde. Desculpe o atraso. – Disse ao senhor mais velho que parecia estar a coordenar os alunos. Este limitou-se a olhar-me chateado, sem pronunciar uma única palavra. Estremeci e o Mister continuou a falar.

- Como eu estava a dizer… As provas não serão realizadas hoje, mas sim na próxima quarta. Hoje o dia será tirado para irem até á enfermaria fazerem uns testes para diagnosticar o vosso sistema. Saber se estão aptos ou não para entrarem em campo. Seleccionaremos os melhores, e esses farão os testes para a equipa… - O Mister percorreu o seu olhar por todos nós. - Alguma dúvida? – Aguardou um pouco mas ninguém disse nada. – Bem, então têm entre as 15h e as 18h para passarem por lá. Amanha de manhã afixaremos os resultados iniciais. É tudo, por agora.
Começamos a dispersar-nos para a saída do campo.

- Viste aquela? Já está marcada. Duvido que consiga lugar na equipa. – Falava de mim, o treinador, ao professor de educação física, que também estava presente.

- A que chegou tarde? Mister, essa é minha aluna, eu via jogar na última aula e aconselhei-a a vir fazer o teste, não a julgue por uns minutos de atraso.

- Hum… Espero que esteja certo, eu não me costumo enganar nestas coisas…

- Vai ver que se vai arrepender do que está a dizer. – Defendeu-me o Professor.
 
****

- Inês… INÊS… - Ouvi chamarem por mim. Voltei-me para ver quem era. Vi o Louis a correr na minha direcção.

- Louis… Ei, por acaso sabes o que nos vão fazer na enfermaria? – Perguntei curiosa.

- Sim, fazemos isto todos os anos, mas este ano estamos a fazer antes das provas, porque normalmente calha a ser depois. Mas não te preocupes, eles só nos vão medir, pesar, fazer umas análises… Essas coisas básicas… Nada demais… - Disse descontraído.

- A… Analises? – Disse engasgada.

- Sim, o que tem?

- Não nada. Não percebo o porquê… - Tentei disfarçar.

- Olha, tens alguma coisa para fazer agora?

- Agora, agora, não, porquê?

- Podíamos ir juntos á enfermaria.

- Acho uma óptima ideia. – Sorri.

- Vamos dar uma voltinha para fazer tempo, porque devem ter ido para lá todos agora, e quando o posto, estiver mas calminho vamos, que me dizes?

- Um excelente plano.

Começamos a caminhar para os enormes jardins que o colégio tinha.

- Louis… Toma atenção às horas, não nos podemos afastar muito.

- Está tudo controlado. – Disse ele muito seguro e sempre sorridente.

Entramos num dos jardins, aquilo era lindo, estava calmo, e eu vagueava nos meus pensamentos até o Louis me interromper.

 - Inês? Passa-se algo?

- Porque perguntas?

- Não sei, estás muito caladinha…

- Agora estás a dizer que sou uma fala-barato? – Perguntei na brincadeira parecendo indignada.

- Não, nada disso, eu gosto quando tu falas… - Baixou a cabeça envergonhado. – No que é que estás a pensar?

- Estou a pensar que já meti água.

- Como assim?

- Sim, com o mister. Viste como é que ele me olhou quando eu cheguei? Parecia que me ia comer viva. – Disse com ar assustada.

- Oh não ligues, ele faz este ar de mauzão, mas é um fixe. Está bem que nos treinos é muito rígido, puxa muito por nós, mas quando temos jogos fora, ele é um bacano, vais ver.

- Não sei não… - Disse insegura. – Ele pareceu mesmo chateado.

- Se fores tão boa, como eu penso que és, ele nem pensa duas vezes antes de te pôr na equipa. – Piscou-me o olho.

- Sim… Fala o capitão, 2 anos consecutivos.

- Este ano não devo ter essa sorte, a concorrência está muito forte.

- Oh, vais ver que consegues.

Ambos sorrimos envergonhados. Acabamos de dar a volta ao parque e começamos a encaminhar-nos para os pavilhões do colégio. Quanto mais perto eu estava da enfermaria mais enjoada eu me começava a sentir. Todo o meu corpo suava e tremia. Já avistávamos a porta da enfermaria, íamos a meio do corredor quando automaticamente paro, vendo o Louis caminhando, quando este se apercebe ter-me deixado para trás.

- Inês passa-se algo? – Perguntou preocupado.

- Hum… Não… Acho que mudei de ideias Louis…

- Mudaste de ideias? – Ele estava confuso.

- Não quero ir ao posto médico… - Disse-lhe, baixinho.

- Mas… – Ele estava mesmo confuso. – Tens de ir se quiseres tentar entrar para a equipa… Passa-se alguma coisa? Fala comigo.

Não aguentei e tive que confessar.

- Tenho pânico de agulhas e de sangue. Pânico!

O Louis olhou para mim, em silêncio. Ao fim de algum tempo, começou a rir.

- Não tem piada! – Eu estava mesmo nervosa. – Eu não estou a brincar! Tenho fobia desde pequena!

- Desculpa, mas pensei que fosse algo mais sério e fiquei aliviado por saber que é só isso. – Esclareceu ele, com um sorriso querido. – Se te sentires melhor… eu fico ao teu lado o tempo todo. Até te dou a mão.

Não consegui evitar sorrir-lhe de volta.

- A sério? – Sentia-me super envergonhada.

- A sério. – Ele sorriu-me. – Anda lá, medricas.

Fiz-lhe uma careta, rimo-nos os dois e entrámos na enfermaria; Estava a sentir-me ligeiramente mais aliviada por estar com o Louis. – Era mesmo bom estar com ele.

- Olá meninos! – Disse-nos a enfermeira, uma mulher nova e simpática. – Suponho que venham fazer as análises para o futebol?

- Sim. – O Louis deu-me uma cotovelada, tentando descontrair-me. – É indolor, não é?

- Claro! – A enfermeira sorriu-me. – Quem quer ir primeiro?

- Ele. – Respondi, apontando para o Louis.

- Ela. – Respondeu ele ao mesmo tempo, apontando para mim; A enfermeira riu-se.

- Um de vocês tem de ser.

Respirei fundo e olhei séria para o Louis.

- Não me largues a mão. – Estava a ficar novamente assustada. – Está bem?

- Não largo por nada deste mundo. – Ele sorriu-me e eu sentei-me.

- Não há motivo para teres medo, querida. – A enfermeira pôs um bocado de álcool num pedaço de algodão e eu desviei logo o olhar; O Louis agarrou-me a outra mão.

- Não stresses, Inês. Olha apenas para a minha linda cara. – Ele fez uma careta e eu ri-me; Mas comecei a sentir-me algo zonza quando a enfermeira me passou o bocado de algodão pelo braço.

- Inês, estás a ficar pálida. – O Louis ria-se mas conseguia perceber que ele estava nervoso; Comecei a ouvi-lo como se estivesse bastante longe.
– Inês…?

Assim que senti a agulha a perfurar a minha pele, fechei os olhos e perdi a consciência. Lentamente comecei a abri-los. A minha vista ainda enfraquecida, começava a ver tudo distorcido, conseguia ouvir umas vozes de fundo, mas não distinguia qualquer tipo de palavras.

 - Inês… - Comecei a perceber, mas ainda muito baixinho. – Inês responde-me. – Pedia-me o Louis muito nervoso e assustado.

- O que é que aconteceu? – Perguntei calmamente ainda um pouco zonza.

- FINALMENTE! Que alivio. – O Louis sorriu soltando um suspiro de alivio.

A enfermeira apertou-me o pulso para sentir a minha pulsação que lentamente voltava ao normal.

- Vou buscar um copo de água… Não deixe a sua namorada se levantar!

- Ela não é… - Explicava o Louis, mas já a enfermeira tinha saído. – Pregaste-me cá um susto.

- Desculpa… - Disse envergonhada enquanto elevava o meu corpo um pouco dormente.

- Shashhhh… Nem penses! – Afirmou autoritário, encostando-me suavemente contra a cadeira. – Ouviste o que disse a enfermeira.

- Aqui está… Beba com calma… - Avisou a enfermeira entregando-me o copo.

Comecei a beber e estava adocicado o que me fez cuspir agoniada.

- O que é isto? – Perguntei fazendo uma enorme careta.

- É água com açúcar para ajudar a subir a tensão. – Sorriu ela, simpática.

- Hum… - Olhei para o copo fazendo outra careta.

- Fazemos assim… Ainda tenho alguns colegas seus para serem examinados, enquanto isso podia ir dar uma volta, apanhar um pouco de ar para ver se ganha uma corzinha e volta mais daqui a pouco?

- É uma óptima ideia! – Afirmou o Louis. – Anda, eu ajudo-te. – Disse ele, ajudando-me a levantar.

- Vão com calma… E Relaxa. – Disse a enfermeira, docemente. Sorri-lhe um pouco nervosa e eu e o Lou saímos dali

- Quando disseste que tinhas fobia de agulhas… - Desabafou o Louis, com um ar meio assustado. – Não estava à espera daquilo, podes ter a certeza. Ias-me dando um ataque de coração.

- Desculpa, não era minha intenção. – Desculpei-me eu. – Já é habitual.

- É na boa, Inês. Não te preocupes.

Passei a mão pela minha testa e respirei fundo; estava melhor mas as minhas pernas ainda tremiam.

- Não estás melhor? – Perguntou o Louis, preocupado.

- Estou… as minhas pernas é que ainda não recuperaram completamente.

- Isso resolve-se rapidamente. – O Lou pôs-se de cócoras à minha frente. – Sobe.

- O quê?! – Corei ligeiramente. – Louis, eu…

- Anda lá, antes que te obrigue!

Algo envergonhada, encostei-me às suas costas e ele levantou-me facilmente. Eu nem queria acreditar que ele me estava a levar às cavalitas

- Ufa! – Queixou-se ele. – És pesada!

- Foste tu que quiseste levar-me! – Acusei-o.

- Estou só a brincar. – Ele riu-se, bem-disposto. – És leve que nem uma pena, não te preocupes.

Ele andou um bocado pelos corredores, só para passar tempo.

- Já te sentes em condições de voltar? – Perguntou-me ele.

Acenei ligeiramente.

- Sim. Desta vez vai correr bem.

Ele sorriu e começou a andar de volta à enfermaria

- … Lou?

- Sim?

- Obrigada… - Murmurei baixinho.

Ele virou ligeiramente a cabeça e piscou-me o olho.

- De nada, Inês.

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