terça-feira, 17 de julho de 2012

Capítulo 6 - Conversa Imprevisivel

-- (Inês) -- 

- Não acredito! – Disse o Louis tentando abrir a porta com toda a força que tinha, mas nada aconteceu. – Não dá!

Comecei a ficar nervosa: não gostava muito de espaços pequenos.

- HEY! HEEEEEEY! – Berrei e dei alguns murros na porta, na esperança que alguém nos ouvisse.

- Esquece. – Suspirou o Louis. – Ninguém vai ter educação física nos próximos 90 minutos.

Arregalei os olhos em pânico.

- Não pode ser! Vamos perder as aulas! E se entretanto ninguém vier?! E se…!

- Calma, rapariga! – O Louis pousou as mãos nos meus ombros, fazendo-me acalmar. – Não te passes, está bem? Temos só de… pensar em alguma maneira de passar o tempo.

Suspirei, tentando-me acalmar.

- Ok, tudo bem… o que sugeres?

Ele sorriu e sentou-se no chão, encostado a uma parede.

- Fala-me um pouco de ti.

- De mim? – Perguntei-lhe, admirada.

- Sim. – Ele deu uma palmada no chão. – Senta-te aqui.

Atrapalhada, acabei por me sentar ao seu lado.

- O que queres saber? – Perguntei, genuinamente curiosa.

- Não sei… – Ele encolheu os ombros. – O que quer que te venha à cabeça.

Foram precisos poucos segundos para a frase me sair pelos lábios.

- Odeio este colégio…

Ele olhou-me, admirado.

- A sério?

Acenei ligeiramente – Quer dizer, provavelmente pareço uma idiota. Qualquer pessoa mataria por estar aqui, em Crestwood… Mas… os meus amigos… os meus amigos de sempre, do meu bairro… Bem, estão todos juntos numa escola super normal e… - Suspirei. – Era só isso que eu queria. 
Estar numa escola normal rodeada dos meus amigos.

Ele ficou em silêncio durante algum tempo.

- Também tens amigos aqui.

Olhei para ele, admirada.

- Sei que nos conhecemos há pouco tempo mas… – Ele sorriu. – Gosto de ti…

Senti as minhas bochechas a arderem.

- Assim como a Ana e o Josh. – Continuou ele. – Por isso, não estás sozinha. Está bem? – Ele deu-me uma cotovelada e eu ri-me.

- Está bem. Obrigada, Lou.

- Lou… - Ele ficou pensativo e depois sorriu. – Gosto!

Sorri-lhe novamente.

- Então e tu? Gostas do colégio?   

Ele acenou.

- Sim, até gosto. Claro que tem os seus defeitos: snobs, uma directora detestável e portas velhas que trancam alunos em arrecadações. – Rimo-nos os dois. – Mas sim, até gosto. 

- Gostava de ter essa tua visão. – Fiz uma careta.

- Bem, talvez algum dia venhas a ter. – Sorriu-me. – Mas também não foi nada fácil vir para o colégio. Custou-me imenso deixar as minhas irmãs…

Tive de impedir um pequeno “aww” de sair dos meus lábios.

- Isso é mesmo querido… – Consegui dizer-lhe, completamente derretida-

Ele riu-se.

- Obrigado, acho eu… Mas tenho que dizer que tive sorte. Quer dizer, a Ana ajudou-me imenso nessa fase pior… - Ele sorriu. – Sempre estivemos lá um para o outro, entendes? Desde pequenos.

Nesse instante, senti um estranho embrulho no estômago, não sei bem porquê.

- Ah… a Ana… pois… – Foi a única coisa que consegui dizer.

- Ela é que nos podia vir safar desta alhada agora. – Riu-se o Louis, bem disposto. – Seria a minha heroína.

- Louis? – Ouvimos os dois ao mesmo tempo.

- Espera… - Comecei eu – Acabámos de ouvir a…?

- E Inês?! – Perguntou, admirada, a Ana – Então era aí que vocês estavam!

Levantámo-nos os dois rapidamente.

- Ficámos aqui trancados. – Disse o Louis para o outro lado. – Tens que ir pedir ajuda, não consegues abrir a porta sozinha.

- É para isso que aqui estou. – Ouvimos outra voz mais grossa falar.

- Josh! – Suspirei de alívio – Vá, tirem-nos daqui!

Após um bom esforço conjunto do Josh e do Louis, a porta foi aberta com sucesso.

- LIBERDADE! – Berrei, saltando cá para fora.

A Ana riu-se, divertida.

- Estávamos à vossa espera há um bom bocado! Como é que ficaram ali presos?

- Fomos arrumar as coisas porque o stor pediu… – Começou o Louis.

- … Foi logo difícil abrir a porta: tentámos abri-la, conseguimos, mas fechou-se quando já lá estávamos dentro. – Terminei eu.

O Josh e a Ana trocaram um olhar cúmplice e um sorrisinho divertido.

- Certo… – Disseram os dois ao mesmo tempo.

Franzi o sobrolho, desconfiada.

- Então e vocês? O que é que estão a fazer tão juntinhos?

Tive de conter o riso quando vi os dois a gaguejar.

- J-Juntinhos? – Perguntou a Ana.

- J-Juntinhos como? – Perguntou o Josh.

Foi a minha vez de rir, juntamente com o Lou.

- Fiquem sabendo… – A Ana revirou os olhos, tentando esconder a sua vergonha. – … que eu, como boa colega que sou, estava à espera da Inês…

-- (Ana) --

- Pois... Pois… Mas vamos para as aulas ou vamos ficar o resto da manhã aqui na conversa? Daqui a nada está a tocar! – Insinuou a Inês. Ficamos todos estáticos a olhar para ela. – Que foi? – Perguntou admirada com as nossas reacções.

- Inês… Acho que passas-te tempo a mais na arrecadação. – Avisei-a ainda espantada.

- Hã?! Porque é que estás a dizer isso? – Perguntou confusa.

- Tu é que estás sempre a reclamar das aulas, e agora és a 1ª a dizer que está na hora. Não te entendo. – Voltei-me para o Louis. – Que lhe fizeste lá dentro? 

- EU?! Eu… Nada! – Senti-o a ficar atrapalhado e envergonhado, o que me fez desmanchar a rir.

- Ana é a sério, acho que devíamos ir. – Disse a Inês muito sério, parecia um pouco perturbada, mas não percebi porquê. – Adeus rapazes, vemo-nos por aí. – Despediu-se, começando a caminhar para a zona feminina.

- Bem, sendo assim, também vou indo. Até já meninos. – Disse.

- Annie… - Chamou-me o Louis. Só ele é que me chamava aquele nome, era tipo a sua alcunha ‘carinhosa’ para mim. - … Vê se ela fica bem. – Pediu-me preocupado.

- Claro. – Sorri-lhe, piscando-lhe o olho. – Adeus Josh. – Acenei-lhe com a mão, ele fez o mesmo e sorriu. Tentei acelerar um pouco o passo para alcançar a Inês. Percorríamos a entrada do colégio lado a lado com alguma velocidade. – Inês! O que é que se passa?

- Nada. Eu só não quero chegar tarde.

Dito isto estávamos já muito perto da sala, já todos os nossos colegas estavam a entrar, fizemos o mesmo. A aula demorou a passar, mas finalmente acabada, saímos. Estava na hora de almoço consegui avistar a Inês já ao fundo do corredor em direcção ao refeitório, apressei-me para a alcançar.

- INÊS! – Gritei. – O que é que se passa rapariga? Estás chateada comigo? – Perguntei preocupada.

- Não! Foi só … - Ela evitou o que estava prestes a dizer. 

- Podes falar, sabes disso?

- Sim, mas é que não é nada, eu só estava com pressa para ir para a aula. Não queria chegar tarde.

- Eu já percebi isso, só ainda não percebi porquê?

- É que… Eu já passei muito tempo na directoria. – Ela baixou a cabeça. – Não quero voltar a esses tempos.

- Oh, desculpa, eu não sabia. Mas já podias ter falado sobre isso. Porque não disseste logo?

- Eu não quis que tu pensasses que eu era uma espécie de rufia ou assim. – Ambas rimos.

- Que tolice. – Pus o meu braço há volta do seu ombro e entramos no refeitório. – Para a próxima, já sabes que podes falar.

Cada uma pegou nos tabuleiros, e fomos buscar a comida, quando aparecem o Josh e o Louis atrás de nós.

- Já falaste com ela? O que é que aconteceu? É comigo que ela está chateada? – Sussurrou-me o Louis atrás de mim, na fila para o almoço.

- Ele não se calou a aula toda. – Comentou o Josh, divertido. – Salva-me!

Ri-me do Josh e voltei-me para o Louis.

- Já Romeu. E não, não é. Não te preocupes.

- Cala-te! Não digas disparates Ana. Pensei que era, sabes que gosto de estar bem com toda a gente…

- Hum Hum… - Dissemos eu e o Josh, com sorrrisos maliciosos.

Já estávamos servidos, pegamos nos tabuleiros, quando nos íamos a sentar e o Josh e o Louis foram chamados por um grupo de rapazes, seus colegas, que estavam numa mesa um pouco mais distante.

- Vocês importam-se… ? – Perguntou o Louis.

- Não, Claro que não. Vão lá. – Disse.

- Adeus. Bom almoço. – Disseram.

Depois de os rapazes se terem juntado, eu e a Inês ficamos a almoçar e depois de terminado o almoço, fomos arrumar os tabuleiros e dirigimo-nos ao quarto, para descansar.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Capítulo 5 - Desatinos com o Equipamento


-- (Inês) --


Dirigia-me para os balneários, enquanto ia há conversa com a Ana, mas somos interrompidas quando ouço chamarem pelo meu nome. Voltei-me de costas e tinha o professor a acenar-me. 


- O que será que ele quer? – Perguntei intimidada, há Ana. 


- Hum… Não sei. Mas não deve ser nada de mal. Boa sorte amiga.


- Obrigada. Já lá vou ter contigo aos balneários. – Disse-lhe. Notei que ambas ainda tínhamos os coletes postos. – Hey! Ana! O colete! – Avisei-a.


- Há sim. Que tola. Toma. – Disse retirando-o e dando-me para as mãos. – Leva-o ao stôr. 


- Ok. – Respondi-lhe vendo-a ir em direcção dos balneários. Direccionei-me ao professor. – Está tudo bem professor? – Perguntei.


- Está. Eu é que estive a reparar no seu jogo hoje, e tenho umas palavrinhas para lhe dar. – Baixei a cabeça com medo do que pudesse ouvir. O professor mantinha um ar muito sério, o que me intimidava ainda mais. – Muitos parabéns. – Sorriu. Fiquei confusa. – Já pensou em prestar provas para a equipa feminina da escola?


- Já sim. Mas nunca achei que tivesse a altura da equipa. – Disse insegura.


- Eu acho que tem grandes hipóteses. Pelo que demonstrou hoje em aula, vejo que tem grandes qualidades, devia apostar nelas. – Corei. 


- Muito obrigada professor.


- Então isso quer dizer que posso contar consigo nas provas de amanhã?


Assenti afirmativamente com a cabeça e esbocei um enorme sorriso.


- Então até amanha menina Davis. E boa sorte.


- Até amanhã. E mais uma vez obrigada. – Agradeci-lhe e comecei a caminhar para os balneários, toda orgulhosa. 


- Bem meninos, por hoje é tudo. Para a próxima aula é futebol, temos de começar a preparar para o interescolar. – Avisou o professor aos rapazes. – Agora podem ir tomar duche. – Os rapazes encaminhavam-se todos para os balneários. – Louis! – Chamou o professor. – Importa-se de ficar mais um pouco para arrumar os materiais? É que ainda tenho de ir á sala dos professores, …


- … Claro que não. – Disse prontamente. 


- Obrigada. Boa aula hoje. – Sorriu-lhe o professor, já a sair do pavilhão.


Eu que já estava a entrar nos balneários reparei que ainda estava com os coletes. “Sempre a mesma distraída”- Pensei. Voltei para trás para os entregar ao professor, mas este já não se encontrava no pavilhão. Percorri os meus olhos pelo recinto quando detecto uma pessoa. Olhei melhor e pude reparar que era o Louis. Acelerei o paço até chegar perto dele. 


- Inês? Que fazes aqui? – Perguntou-me.


- Isso pergunto eu.


- O stôr pediu-me para ficar a arrumar os materiais, e tu? Qual é a tua desculpa?


Levantei os coletes que tinha na mão e fiz uma careta.


- Por acaso não sabes onde os posso deixar, não?


- Sim. É ali. – Apontou para uma entreaberta a um canto do pavilhão.


- Hum… Obrigada. – Virei costas, ia começar a andar mas deixei-me parada, e voltando-me novamente para ele. – Precisas de ajuda? – Ofereci-me.


- Só se não te importares.


- Claro que não. Somos dois fazemos isto mais rápido. – Sorri-lhe, e comecei a pegar em alguns pinos que estavam a marcar o campo. – Acho que está tudo… - Disse olhando para o espaço.


- Sim, agora é só levar o que falta para dentro e está tudo. – Pegamos nos restantes materiais e carregamo-los para a salinha de arrumações. 


- Esta porta está a precisar de óleo. – Queixou-se o Louis, enquanto tentava abrir um pouco mais a porta da mini arrecadação.


- Realmente, não entendo… – Disse eu, revirando os olhos. – A directora passa horas e horas a gabar-se da escola, mas não trata desta porta!


O Louis riu-se.


- Também não gostas da directora?


- Mas alguém gosta?! – Perguntei, arregalando os olhos.


- Bem pensado! – Ele riu-se e conseguiu finalmente arrastar a porta. – É melhor pôr algo aqui para segurá-la.


Entrei rapidamente na salinha e agarrei numa caixa de madeira vazia.


- Isto serve? – Perguntei, mostrando-lhe a caixa.


- Perfeitamente. – Ele sorriu e encostou-a à porta. – Pronto. Passa-me os pinos, por favor.


Estávamos os dois mesmo a acabar de arrumar quando ouvimos um estalo.


- O que foi isto? – Perguntei.


Não tive tempo de saber a resposta, porque a porta fechou-se com uma rapidez incrível, partindo um pouco da caixa de madeira e trancando-nos a nós naquela arrecadação pequena e pouco iluminada.


O Louis abriu a luz rapidamente; parecia mesmo irritado.


-- (Ana) --


Já estava desequipada, com o duche tomado e a farda vestida, e ainda nem sinal da Inês. Visto que ela ainda iria demorar um pouco decidi ir despachar-me e fui até ao meu cacifo buscar os livros das aulas seguintes. Peguei nos livros, olhei em volta e ainda sem avistar a Inês. Comecei a ficar preocupada, mas o pouco que já conhecia dela provavelmente estava a pastelar de baixo do duche. Decidi então voltar aos balneários, mas ela não lá estava. ‘Estranho’ – Pensei. Ia a sair do pavilhão desportivo quando ouço o meu nome.


- Ana! – Chamou-me uma voz familiar. Voltei-me para o sítio de onde vinha o som e pude notar que era o Josh. Parecia exausto. 


- Josh. Está tudo bem? 


- Sim está. Mas diz-me só que viste o Louis? Já percorri a escola toda há procura dele e não o encontro. 


- A sério? Que estranho. É que se está a passar exactamente o mesmo comigo em relação há Inês.  


- Wuou, jura?! – Ele estava tão espantado com aquela situação quanto eu.


- Sim. Eu combinei com ela nos balneários, mas ela nunca mais apareceu. E no Pavilhão também já não está.


- Pois. Foi como eu e o Louis. 


- E agora? Espero que não lhes tenha acontecido nada. – Disse receosa.


- Eles estão bem. Tenho a certeza. – Tranquilizou o Josh, dando um sorriso sincero, que me deixou mais descansada. – Vamos procura-los. – Disse, pegando-me na mão puxando-me com ele.